Arquidiocese de Mariana luta por reconstrução de legado religioso após tragédia
Data: 26/12/2024 - Autor: Revida Mariana
O rompimento da barragem de Fundão, em 2015, causou destruição que ultrapassa os danos ambientais. Segundo a Arquidiocese de Mariana (MG), o desastre devastou parte do patrimônio histórico e cultural das comunidades atingidas, incluindo igrejas centenárias e bens sagrados que carregavam a identidade e a fé local. Na última terça-feira (24), a Folha de São Paulo divulgou que as mineradoras Samarco, BHP Billiton e Vale entraram com uma petição na Justiça solicitando a exclusão da ação na qual a Arquidiocese de Mariana pede indenização.
Entre os danos mais significativos estão a destruição total da igreja de São Bento, em Bento Rodrigues, e os graves danos sofridos pelas capelas de Nossa Senhora da Conceição, em Gesteira, e de Santo Antônio, em Paracatu de Baixo. A capela de Nossa Senhora das Mercês, embora não atingida diretamente pelos rejeitos, ficou isolada e em deterioração, vítima de vandalismo e abandono durante anos. Recentemente, ela começou a ser reformada, segundo moradores da região. A perda não é apenas material: cerca de 90% dos bens sagrados dessas igrejas não podem ser restaurados, deixando um vazio irreparável na história e na religiosidade das comunidades.
Para o morador Marcos Muniz, conhecido por ser “memória viva” de Bento Rodrigues, a igreja destruída gera revolta e muita tristeza. “A igreja de São Bento, por exemplo, era um cartão postal da cidade. Já a outra igreja interditada, a gente vai mas não é com aquela frequência, né? Nem toda a comunidade frequenta mais. Então é revoltante e muito triste porque perdemos esse senso coletivo das celebrações”, lamenta o morador.
Luta por Justiça
Desde 2018, a Arquidiocese de Mariana move quatro processos judiciais que totalizam R$ 40 milhões em pedidos de indenização. Apesar disso, as mineradoras responsáveis – Samarco, Vale e BHP Billiton – já entraram com petições solicitando a extinção de duas dessas ações, argumentando que o Acordo de Repactuação homologado em outubro de 2024 cobre todos os danos.
A Arquidiocese contestou, afirmando que não participou do acordo e que seus bens, por serem patrimônio privado de relevância religiosa e cultural, não foram contemplados. “Ainda que a restauração dos templos seja essencial, ela não substitui a necessidade de uma indenização integral. Os templos permanecem fechados por quase uma década, privando as comunidades de seus espaços religiosos e sociais”, disse a entidade por meio de nota.
Impactos na Comunidade
Para Marcos Muniz, que celebrou as bodas de prata nas ruínas da igreja de São Bento em 2017 como ato de resistência, a destruição das igrejas simboliza a perda de um lar espiritual. “Quem destruiu deve reconstruir porque um bem daquele tamanho, com aquele tempo todo de construção, nunca poderia ser apagado”, disse. Ele, como muitos outros, enfrenta a dificuldade de manter as tradições religiosas em meio a celebrações improvisadas e afastamento da comunidade.
Além da busca por reparação financeira e material, a lentidão judicial também é um dos alvos de críticas de atingidos e da Arquidiocese. “Os processos judiciais e os esforços de reparação eu vejo que eles são muito lentos. Já são mais de 9 anos. O rompimento da barragem afetou a relação da comunidade nos encontros religiosos porque hoje quando há alguma celebração naquele espaço nem todo mundo vai mais. Mas nunca podemos perder a fé, né?”, defende Marcos Muniz.
Enquanto a Arquidiocese e fiéis resistem, mantendo a fé e cobrando justiça, o impacto do rompimento ainda ecoa. A reconstrução das igrejas é mais do que a recuperação de edifícios históricos: é a restauração de um vínculo entre passado, presente e futuro, essencial para a memória e a dignidade das comunidades atingidas.