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Brumadinho: atingidos fazem protesto em BH e pressionam por novo acordo de reparação

Data: 25/01/2025 - Autor: Revida Mariana

Atingidos pela tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho fizeram um protesto em Belo Horizonte (MG) para denunciar a morosidade na reparação do crime cometido pela Vale há seis anos. A tragédia, que completa 6 anos neste sábado (25), tirou a vida de 272 pessoas em 2019 — incluindo três desaparecidos e dois bebês em gestação —, e contaminou toda a Bacia do Paraopeba, deixando populações inteiras expostas a rejeitos tóxicos.

Atingidos fazem protesto em BH e pressionam por novo acordo de reparação (FOTO: MAB/Divulgação)
Atingidos fazem protesto em BH e pressionam por novo acordo de reparação (FOTO: MAB/Divulgação)

Apesar da mineradora alegar que já indenizou 17 mil pessoas, isso representa apenas 10% dos atingidos. A crítica central dos manifestantes é a paralisia na reparação ambiental, essencial para o restabelecimento da vida e da economia na região. Cerca de 800 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) participaram de uma audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na sexta-feira (24). Bandeiras e faixas do Revida Mariana reforçaram a luta dos atingidos de Brumadinho.

Representantes do movimento destacaram que a Vale tem removido apenas 1% dos rejeitos da bacia, prolongando a contaminação de rios, solos e animais. Além disso, comunidades ribeirinhas enfrentam crises de saúde, falta de água e desemprego, enquanto a mineradora não compareceu ao debate para ouvir as demandas.

“A reparação ambiental prevista no acordo de 2021 não tem limite orçamentário, mas os dados mostram que a execução é praticamente inexistente”, afirmou Guilherme Camponêz, integrante da coordenação do MAB. Ele destacou que a permanência dos rejeitos impede o retorno das atividades econômicas e intensifica o sofrimento das comunidades.

Corte do Programa de Transferência de Renda (PTR)

Outro ponto crítico levantado foi o anúncio de cortes no Programa de Transferência de Renda (PTR), que beneficia 153 mil pessoas com valores entre meio e um salário-mínimo. O auxílio será reduzido pela metade em março e encerrado em abril de 2026, mesmo sem a retomada econômica nas regiões atingidas.

Kezia Martins, moradora de uma das áreas atingidas, alertou sobre o impacto dessa medida: “Nem com o valor integral conseguimos pagar os remédios que precisamos. Como sobreviver com 50% desse auxílio?”.

Além disso, lideranças indígenas como Fátima Aranã e Liderjane da Mata destacaram que algumas comunidades ainda não foram sequer reconhecidas como atingidas, o que impede o acesso a direitos garantidos por lei.

Manifestação e reunião no MP-MG

Atingidos fazem protesto em BH e pressionam por novo acordo de reparação (FOTO: MAB/Divulgação)
Atingidos fazem protesto em BH e pressionam por novo acordo de reparação (FOTO: MAB/Divulgação)

Durante a tarde de sexta-feira, os atingidos caminharam até o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), onde se reuniram com autoridades e representantes do governo estadual. O procurador-geral Paulo de Tarso Morais Filho afirmou que o atual acordo pode ser revisado e reforçou a necessidade de ampliar a participação popular no processo.

O governo e as instituições de justiça comprometeram-se a apresentar, em até dez dias úteis, propostas para atender às demandas. “Deixaram claro que o acordo pode ser modificado. Se isso não avançar, seguiremos lutando nas ruas e no judiciário”, enfatizou Guilherme Camponêz.

A audiência também abordou os impactos do crime que persistem devido à falta de reparação ambiental. A cada temporada de chuvas, o rejeito depositado nos rios retorna, causando problemas de saúde, como doenças de pele, distúrbios gastrointestinais e transtornos psicológicos. 

Além disso, os atingidos alertaram sobre a possível interrupção das assessorias técnicas independentes (ATI), essenciais para garantir informações e apoio jurídico. “A retirada da ATI significa nos deixar sem defesa e sem voz. A lei garante esse direito enquanto a reparação não for concluída”, afirmou Joelisia Feitosa, de Juatuba.

Um crime sem fim

Os relatos e denúncias reforçam que o rompimento da barragem não foi um evento isolado, mas um crime cujos efeitos continuam a se perpetuar. “A morte de um rio não atinge apenas quem vive às suas margens, mas impacta toda a sociedade e as futuras gerações”, destacou Bruno Bugarelli, representante da OAB.

Com a promessa de revisão do acordo e a mobilização dos atingidos, o caso Brumadinho permanece como um símbolo da luta por justiça, reparação e responsabilização no Brasil. “Estamos aqui para fortalecer a luta porque somos todos atingidos. Atingidos pelos crimes de Brumadinho, atingidos pelo crime de Mariana. Somos todos atingidos e estamos sempre em luta por reparação”, disse Thiago Alves, integrante da coordenação do MAB.

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