‘Como o povo participa?’, questiona Thiago Alves, do MAB, sobre acordos de reparação
Data: 21/06/2024 - Autor: Revida Mariana
Há quase nove anos à espera de uma reparação justa e adequada, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) foi às ruas essa semana para reivindicar a participação popular nos acordos de reparação pelo crime socioambiental em Mariana, Minas Gerais. Em entrevista ao programa Giro das 11, do portal Brasil 247, Thiago Alves, coordenador nacional do MAB, denunciou a forma com que o acordo vem sendo conduzido, sem a participação dos atingidos.
“Na leitura do Movimento dos Atingidos por Barragens, pela nossa experiência histórica, quando se fala em acordos dessa natureza é de interesse da classe dominante. É de interesse das grandes empresas para tentar controlar o futuro do dinheiro da reparação, tentar impor políticas e conceitos, inclusive de quem é o atingido, quais são os seus direitos”, disse durante conversa com a jornalista Camila França.
“Então, é uma disputa no seio da luta de classes. Todo acordo passa por isso, e todo acordo é ruim para a parte mais fraca. No caso aqui, os atingidos como classe trabalhadora que não detém de fato os meios de decisão na sociedade”, completou. Para Thiago Alves, é papel do movimento disputar o futuro do acordo, para que ele esteja a serviço da solução do problema gerado pelas empresas Vale, BHP Billiton e Samarco. Durante o papo, o coordenador do MAB fez um resgate histórico desde a tragédia, em 5 de novembro de 2015, até o momento atual, em que ainda se discute uma solução para o caso.
Cadê o povo?
Ao longo dos últimos oito anos, alguns acordos foram realizados, mas sem a participação popular, principal questionamento do MAB.
“Como das outras vezes, e como é histórico nesse tipo de processo, o povo não participa disso. Então, desde março de 2022 pelo menos, que nós estamos nesse acompanhamento, fazendo manifestações, intervenções nos diferentes espaços públicos de debate, para cobrar a participação dos atingidos e para denunciar que esse tipo de acordo não serve ao processo de reparação”, disse Thiago Alves.
“Se nós fizermos uma proporção matemática com número de atingidos, área atingida por rejeitos, número de municípios atingidos, etc, esse acordo deveria ser no mínimo R$ 500 bilhões. Essa é uma forma de denúncia de que há aqui uma grande desproporção em como estamos tratando, e a Vale está ganhando dinheiro nesse processo. Nós estamos vendo aí os lucros bilionários (da Vale), enquanto nós estamos vendo esse acordo rebaixado”, denunciou o coordenador do MAB.
Principais falhas da reparação
Ao ser perguntado sobre as principais falhas do processo de reparação do crime socioambiental de Mariana, com o rompimento da Barragem de Fundão, Thiago Alves destacou os três mais graves:
- sigilo nas negociações entre estados, municípios e mineradoras, excluindo a participação dos atingidos;
- inexistência de previsão organizada de como o atingido vai participar da execução do acordo;
- valores rebaixados e preocupação com o pós-acordo.
“Dentro do que nós sabemos, o acordo, por exemplo, pelas informações ditas em reuniões públicas, está tratando sobre saúde, recuperação econômica e social nos territórios, auxílios mensais, programas de transferência de rendas, fundos para projetos comunitários, etc. Então, essas são algumas informações que nós temos, mas tudo muito superficial. E pelos valores apresentados na imprensa, não é suficiente”, denuncia o coordenador do MAB.
Outra preocupação do movimento é como a população irá participar do pós-acordo. “O que o MAB receia além dessa fase fechada e não transparente da negociação e com os valores que nós temos até agora muito rebaixados, há uma preocupação sobre o pós-acordo. Como o atingido vai participar? Vai ficar na mão do Governo Zema? No caso aqui do estado de Minas Gerais. Vai ficar na mão do prefeito de cada município? Como o povo participa? Esse é um ponto central”, disse.
Para conferir toda a entrevista, acesse o canal do Giro das 11 no Youtube.